Nos últimos tempos, o termo depressão tem sido usado
cada vez mais de modo aleatório, servindo apenas para banalizar a gravidade da
doença e reforçar a ideia de que não se trata de um problema de saúde, mas de
uma alteração “exagerada” de humor que acomete algumas pessoas estressadas ou
desequilibradas.
A depressão como uma única entidade não existe. Há
transtornos de humor e reações depressivas (breves ou prolongadas), cujas
características, bem como as causas, sintomas e tratamentos serão descritas com
cautela a seguir.
No entanto, deve-se diferenciar, antes de tudo, o que
é a depressão como transtorno psiquiátrico e o que é o sentimento de tristeza
que acomete em geral as pessoas em diferentes momentos da vida em graus e
intensidades distintos.
Isso é importante para não reforçar essa ideia
confusa e indiscriminada que junta em um mesmo pacote, sentimentos, emoções,
transtornos e doenças. Essas atitudes ainda dificultam o tratamento, retardam (ou
impedem) a cura e causam ainda mais conflitos e angústias àqueles que
apresentam os sintomas desagradáveis da depressão.
Ainda que a tendência dos tempos atuais seja de
encarar a tristeza de modo equivocado, limitado e negativo, o que não representa
uma visão real, integrada e humana deste sentimento, devemos encará-la como
algo belo.
Todos nós, diante de certos acontecimentos, sejam
eles concretos ou abstratos, podemos nos sentir tristes em algumas ocasiões.
Acontece que a maioria das pessoas tende a encarar a tristeza como algo
indesejável e que deve ser eliminado o quanto antes e a qualquer custo.
Construímos de forma enganosa nossos perfis como pessoas atraentes, de sucesso
e bem-sucedidas e nos convencemos de que nessa idealização não cabe a tristeza.
Inúmeras sugestões, como sair, dançar, beber e
viajar, são dadas pelos amigos ou propostas por nós mesmos como tentativa de
revertermos o quanto antes essa sensação, tida como tão indesejável e
incoerente com uma reputação agradável.
É exatamente por isso que perdemos a chance de
extrair da tristeza tudo o que nela está contido de belo e produtivo. Em vez de
a interpretarmos como uma grande vilã, deveríamos nos permitir senti-la e
vivenciá-la como uma oportunidade de encontrarmos soluções criativas e
altamente eficientes para problemas, conflitos e dúvidas pessoais.
Poemas maravilhosos, pinturas extremamente sensíveis,
composições tocantes e outras manifestações artísticas inesquecíveis se deram
em momentos de profunda tristeza. Ao nos entregarmos realmente àquilo que
estamos sentindo sem nos rebelarmos ou fingirmos, poderemos assimilar a
importância fundamental de cada sentimento, inclusive a dor. Não se trata de
alimentar e sim de transformar a tristeza.
É evidente que não queremos aqui fazer um tributo à
tristeza, insinuando que alimentá-la ou estendê-la seja a escolha mais
inteligente de como lidar com ela. O intuito não é intensificar ou prorrogar
sentimentos difíceis, mas nos permitirmos a experimentá-los como parte do
amadurecimento afetivo e emocional de todos nós.
Se você se sentir invadido pela melancolia, o ideal é
se permitir tornar-se introspectivo, chorar, ficar sozinho e sentir-se de fato
triste. Não é necessário fugir ou negar os motivos, menos ainda disfarçar. O
melhor é abraçar a tristeza e tentar compreender a serviço de que ela se
manifesta naquele momento.
Não quer sair? Não saia. Não quer falar? Não fale.
Não quer se expor? Não se exponha.
Respeite-se e usufrua do seu silencio interior como o
que ele é: sua verdadeira sabedoria.
Apenas espere e esteja atento, porque em algum
momento você descobrirá um caminho, enxergará uma luz ou obterá uma resposta.
Costumo afirmar que a tristeza é azul e a alegria é
amarela, enquanto o amor é rosa e a paixão é vermelha. Os sentimentos nos
remetem à vibração das cores, como bem explicam os especialistas em
cromoterapia. Nossas experiências e lembranças pessoais, por exemplo, fornecem
nuances de humor a partir das cores que escolhemos para nos vestir, calçar ou
decorar a casa, seja em um dia ou durante anos.
Ainda em uma analogia de cores, podemos dizer que a
melancolia é azul índigo, profundo, escuro, mas colorido, sobretudo. Já a
depressão é cinza chumbo, sem vida, sem luz. Isso evidencia o quanto essa
doença nos tira a capacidade de reconhecer a graça da vida, simplesmente porque
torna o horizonte desinteressante, apático e sem brilho.
Desse modo, torna-se simples entender a diferença
entre tristeza e depressão. Sentir-se triste é natural e faz parte da dinâmica
do ser humano, enquanto sentir-se depressivo é a característica de um distúrbio
ou transtorno psíquico.
A tristeza é bela e criativa, em princípio. Porém,
deve ser melhor observada quando se torna prolongada, intensa, ou exagerada em
todos os aspectos, embora seja uma reação a um acontecimento difícil.
Ainda que a causa da tristeza seja a morte de um ente
querido, o término de um relacionamento amoroso, uma decepção inesperada com um
amigo, a perda do emprego ou sérios problemas financeiros, o natural é que haja
uma melhora progressiva da condição emocional do indivíduo e que ele se sinta
cada vez mais forte para lidar com a situação. Afinal, todos nós temos
competências que nos capacitam a vencer obstáculos e superar as dificuldades a
que somos submetidos ao longo da vida.
Texto de Bernardo de Gregório
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